Por que as ações sobem?

O crescimento do mercado de ações global não é uma anomalia. É o resultado previsível de fundamentos sólidos que perduram há mais de um século.

O futuro financeiro de todos os nossos clientes está baseado em um princípio: as ações aumentam de valor ao longo do tempo.

Em outras palavras, para períodos de tempo relevantes, sustentamos que o conjunto das maiores empresas do mundo sempre valorizou — e continuará valorizando.

A história confirma isso: desde o ano 1900, o mercado acionário global cresceu a uma taxa de 8,2% ao ano em dólares¹. Esse longo período inclui guerras, crises financeiras, pandemias e nacionalismo, assim como períodos de calma, prosperidade e globalização.

Além disso, em praticamente todos os países do mundo, o retorno das ações (empresas) superou o da renda fixa (dívida). Isso é de se esperar. Afinal, que empresa tomaria empréstimos a uma taxa maior do que a rentabilidade esperada de seu próprio negócio?

Agora, o que está acontecendo nos bastidores para que isso ocorra?

Ou seja, o que impulsiona esse crescimento?

Entender isso é fundamental para explicar o passado — mas, ainda mais importante, para entender por que acreditamos que esse crescimento continuará no futuro.

 

Quais são os componentes que impulsionam o crescimento no valor das ações?

O retorno obtido pelas grandes empresas do mundo pode ser dividido em três componentes:

Dividendos distribuídos: o dinheiro repassado pelas empresas aos seus acionistas.

Aumento dos lucros: o crescimento dos lucros por ação das empresas.

Mudanças no múltiplo preço/lucro (P/L): aumento (ou redução) no valor que os investidores atribuem às empresas em relação aos seus lucros por ação.

Vamos agora explicar cada um desses componentes e estimar seu impacto no mercado acionário americano, medido pelo S&P 500, entre 1880 e 2014².

 

Dividendos distribuídos

Este é o componente mais intuitivo. As empresas lucram e repassam parte desse lucro aos seus acionistas. Desde 1880, esse componente gerou um retorno anual de 4,2%.

No entanto, nas últimas décadas ele diminuiu, atualmente estando abaixo de 2%. Isso porque, a partir da década de 1990, muitas empresas americanas passaram a priorizar a recompra de ações em vez do pagamento de dividendos — tanto por razões fiscais para os investidores quanto para lhes dar maior controle sobre os fluxos de caixa, além de representar uma forma de aumentar o valor da empresa quando a recompra é feita em momentos oportunos.

De qualquer forma, na medida em que não são distribuídos dividendos e sim recompradas ações, o investidor obtém o mesmo retorno — só que na forma de aumento dos lucros por ação, como veremos a seguir.

 

Aumento dos lucros

À medida que a economia cresce, também crescem os lucros das grandes empresas do mundo. Afinal, essas empresas representam uma fatia relevante da economia global.

E por que a economia cresce? Por duas razões simples: aumento do número de trabalhadores e aumento da produtividade por trabalhador (tanto pelo maior capital disponível por trabalhador quanto pelo avanço tecnológico — mais produção com a mesma quantidade de trabalho e capital).

Importante: o que nos interessa ao decompor o retorno das empresas é o aumento do lucro por ação. Ou seja, se os lucros aumentaram porque foram emitidas mais ações ou porque novas empresas abriram capital captando recursos, isso não gera retorno adicional para os acionistas — pois dilui sua participação. Este componente, portanto, mede apenas o aumento real do lucro por ação, descontando os efeitos dilutivos.

Desde 1880, esse componente representou outros 4,2% ao ano para o mercado americano — idêntico ao número anterior.

Esse crescimento pode ser dividido em:

  • Inflação (aumento dos preços dos bens e serviços pela perda do poder de compra da moeda)
  • Aumento real do lucro por ação

Fazendo essa divisão, observamos que a inflação nos EUA nesses 130+ anos foi de 2,5%, enquanto o crescimento real dos lucros por ação foi de 1,7%.

Isso demonstra o poder das empresas, no longo prazo, de proteger nosso capital contra a inflação, já que conseguem repassar aumentos de custos aos seus preços de venda. Essa é uma das principais vantagens das ações como investimento de longo prazo frente à renda fixa.

Mudanças no múltiplo P/L (preço/lucro)

O terceiro e último componente diz respeito a quanto mais (ou menos) os investidores estão dispostos a pagar por uma empresa em relação aos seus lucros.

Um exemplo: se uma empresa tem um múltiplo P/L de 15 e lucros de USD 10 por ação, ela valerá USD 150 (15 × 10).

Agora, se como resultado de maiores expectativas de crescimento dos lucros por parte dos investidores, ou devido a uma diminuição na taxa de retorno que estes investidores exigem, o múltiplo subir para 20 e os lucros permanecerem inalterados, a ação valerá $200 ($20 x $10), aumentando assim 33,3%.

Como se pode imaginar, este é o componente mais volátil dos retornos das ações. Ele depende de expectativas e do sentimento dos investidores, variando muito ano a ano — até mesmo de década em década.

No entanto, no longo prazo, essas variações se anulam, tornando seu impacto líquido muito pequeno.

No curto prazo, dominam o cenário. No longo prazo — o que realmente importa — são apenas ruído.

Enquanto isso, os dividendos e o crescimento dos lucros têm sido muito mais estáveis década após década.

Desde 1880, este componente somou apenas 0,3% ao retorno total do mercado americano.

 

Somando os componentes

Agora que analisamos cada componente individualmente, vamos somá-los para obter o retorno total do mercado americano entre 1880 e 2014:

+ Dividendos distribuídos: 4,2%

+ Aumento dos lucros por ação: 4,2%

+ Variações no múltiplo P/L: 0,3%

= Retorno total: 8,7%

A seguir, isso pode ser visualizado graficamente por década desde 1880:

 

Conclusão

O crescimento no valor das grandes empresas do mundo não é um fenômeno misterioso ou irracional.

Tampouco se deve, no longo prazo, ao fato de investidores empurrarem os preços para cima, desconectando-os da realidade. Na verdade, esse efeito tem sido muito pequeno.

A resposta é simples: as empresas aumentam de valor porque distribuem dividendos (que podemos reinvestir) e porque aumentam seus lucros por ação acima da inflação.

Isso se deve ao crescimento econômico contínuo — do qual essas empresas são protagonistas — e à sua capacidade de repassar aumentos de preços ao consumidor.

O crescimento histórico foi real, sustentável e baseado em fundamentos por mais de 130 anos.

As grandes empresas do mundo continuam distribuindo dividendos, gerando lucros sólidos e crescendo ano após ano. Isso nos dá máxima confiança de que esse motor continuará funcionando pelos próximos 130 anos — e além.

Cr. Rodrigo Cancela, CFA

1 – Global Investment Returns Yearbook 2025 (Dimson, Marsh, Staunton).

2 – Datos en base a Ramraika, 2014.